Teus Olhos Meus, poesia em película
- Cindy Pereira
- 24 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
Teus Olhos Meus (2011)
Contém spoiler caso ainda não tenha visto o filme*
Para quem gosta de nomes de filmes, novelas, livros (assim como eu), não tem como não achar no mínimo interessante esse nome: Teus Olhos Meus (2011). Para mim, já é de longe, um dos títulos mais bonitos que vi. Só esse detalhe já aguçou minha vontade de assistir. Mas além disso, Teus Olhos Meus, um filme de Caio Sóh, possui uma trama genial, com personagens de características muito marcantes. Gil (Emilio Dantas), um jovem músico, boêmio de 20 anos, é criado por sua tia Leila (Paloma Duarte) e seu tio César (Roberto Bomtempo). A relação de Gil com seu tio é bastante conturbada, pelo fato de César não aceitar o estilo de vida do rapaz. Dentre tantas brigas, Gil se vê obrigado a sair de casa. Numa das noites em que Gil sai de casa, somos apresentados à Otavio (Remo Rocha), um produtor musical casado com Carlos (Cláudio Lins) Numa das brigas entre o produtor e seu marido, Otavio sai pra espairecer, e num bar, em frente à praia, entre cigarros e doses de bebidas, acaba conhecendo Gil. Em meio a mais doses de vodka e whisky, do desabafo no ombro amigo um do outro, coisa que ambos estavam precisando, Gil e Otavio se beijam. O que deixa Gil atordoado, por se considerar heterossexual. A partir disso, Gil começa a questionar a si mesmo, e sua sexualidade.
Gil e Otavio em Teus Olhos Meus (2011)
Carlos é extremamente ciumento, o que causa desgaste na relação e a separação do casal. Após passar algumas noites fora de casa, e relutar contra seu próprio eu, Gil acaba indo procurar ajuda de Otavio, que lhe oferece moradia temporária e um emprego.
Talvez pela convivência em casa e no trabalho, surge uma relação entre Otavio e Gil, que ainda tem dificuldade aceitar seus novos desejos. Mas acaba se convencendo de que essa sua mudança não pode ser ruim, porque segundo ele, encontrou "felicidade aonde jurava que jamais iria". A auto aceitação da homossexualidade de Gil, é tratada de uma forma simples, natural e leve. Diretor estreante, Caio Sóh mostra sua sensibilidade, tratando de relações homossexuais, nem com preconceito de um lado, muito menos com rancor, do outro. E ainda consegue inserir pitadas de humor, sobre o tema. Após um ano de relacionamento, Gil decide apresentar Otavio para sua tia Leila. E a partir daí, cria-se um embate em sua vida, esperando pela aceitação de seu relacionamento com Otavio, por sua tia Leila. O que nos traz um final surpreendente.
Teus Olhos Meus, é uma produção de baixíssimo orçamento, conta com diálogos incríveis, filosóficos e poéticos. Conta com a participação de artistas como Maria Gadu e Fernando Anitelli com o grupo musical, O Teatro Mágico, que contribuem para uma trilha sonora linda, delicada e tocante.
Gil e Otavio em Teus Olhos Meus (2011)
O diretor Caio Sóh, acertou em cheio em sua estréia como cineasta. O roteiro é extremamente inteligente, as atuações, mesmo com um pouco de dificuldade, conseguem nos mostrar exatamente como os personagens se sentem em meio às suas próprias confusões mentais e conflitos internos. Teus Olhos Meus é poesia em forma de película, representando dignamente o cinema brasileiro.
Prêmios: - Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2011: premiado como Melhor Filme Brasileiro (Júri Popular); - Festival de Cinema Brasileiro de Los Angeles 2011: premiado como Melhor Filme, Roteiro, Ator (Emilio Dantas), Atriz (Paloma Duarte) e Trilha Sonora Curiosidades: - Caio Sóh disse em entrevistas que não chegou a gastar nem R$ 5 mil na produção do filme. E que também não pagou nem R$1 aos atores.
- Todas as locações eram casas de amigos e conhecidos, portanto, não precisaram ser pagas.
- Teus Olhos Meus demorou um ano para ser gravado e foi editado no Windows Media.
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