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Crítica Stranger Things 3| entre a representatividade e o estereótipo

  • Foto do escritor: Raphael de Carvalho
    Raphael de Carvalho
  • 5 de jul. de 2019
  • 4 min de leitura

Série não decepciona e continua como grande carta na manga das produções originais Netflix

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Dustin (Gaten Matarazzo), Steve (Joe Keery) e Robin (Maya Hawke) no shopping Starcourt.

Estou a alguns bons minutos parado em frente a uma tela branca, sem saber o que escrever, não é por ter dúvidas sobre ter gostado ou não da terceira temporada de Stranger Things, a única duvida que tenho é se deveria ter assistido compulsivamente os 8 episódios, com pausas apenas para comer e ir ao banheiro de dois em dois episódios, ou seja, vi praticamente 4 longas-metragens em menos de 24 horas. Quem sabe se distribuísse em um mês os episódios, não teria esse buraco no peito decorrente do vazio deixado pela série, mas por outro lado, se tivesse assistido em doses homeopáticas, nunca teria tido essa experiência de imersão e total envolvimento emocional.


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Karen Wheeler no clube em Hawkins

Bom, sem dar spoilers que comprometam a experiência de quem ainda irá ver, vou destacar os pontos altos e baixos, logo de cara, quero mencionar o destaque que os primeiros episódios deram a personagem Karen Wheeler (Cara Buono), a mãe de Mike (Finn Wolfhard) e Nancy (Natalia Dyer). Ela está lindíssima, atraente e com um dilema muito pertinente a ser resolvido, o fato é que, em uma série onde o ponto de vista, em maioria, nos é dado por crianças/ adolescentes de uma determinada época (década de 80), é muito bom inserir elementos e conflitos adultos, que sempre existiram, e ainda mais naquela época, onde o papel da mulher na sociedade era bem mais definido, por esse ponto de vista, uma mulher de meia idade aparecer atraente na tela, demonstrar interesses pessoais muito distantes do papel de senhora do lar, é muito real e natural. Outros exemplos que vão na linha dessa abordagem crítica, é a dificuldade que Nancy tem para ter voz em uma redação de jornal composta maciçamente por homens, o convívio diário com piadas que questiona totalmente suas capacitações e estabelecem implicitamente seu papel no mundo corporativo. Basicamente servir café e ser adorável. O personagem Lucas (Caleb McLaughlin) e o próprio Mike evidenciam esse machismo estrutural, enraizado, mas o interessante é notar que os laços de amor e de amizade se sobrepõe a esse comportamento e é o que dita a série. O que eu quero dizer com isso, é que o trabalho de "formiguinha", os mínimos detalhes, a pesquisa profunda que os profissionais tiveram para construir uma estética realista e um tanto romantizada daquela década em especifico, em uma cidade de interior nos Estados Unidos, foram os mesmos cuidados para construir uma base comportamental sólida, coisas que vão além do corte de cabelo e preferências musicais.


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Robin na sorveteria do Shopping Starcourt

Outro destaque positivo foi a introdução da personagem Robin (Maya Hawke), que na vida real é filha dos atores Ethan Hawke e Uma Thurman, o que fica evidente em sua fisionomia, o difícil é decidir se ela parece mais com a mãe ou com o pai, na minha opinião essa é uma perfeita fusão dos genes de ambos. Voltando para a personagem Robin, a série ganhou muito com mais uma garota inteligente entrando para o time, sem falar da representatividade que trás consigo, Robin tem um senso de humor muito peculiar e a parceria dela com Steve (Joe Keery), está demais, o que não falta é química entre os personagens. Por falar em mulheres que ganharam relevância nessa terceira temporada, não poderia deixar de falar da garota nerd mais descolada e desaforada, estou falando de Erica Sinclair (Priah Ferguson), a irmã de Lucas e dona de uma personalidade incrível, uma negociadora com potencial enorme e que representa o patriotismo americano em sua essência, costumes e valores, é isso mesmo, estou falando de uma criança de dez anos, mas o que não falta em Stranger Things são crianças extraordinárias e com profundidade.

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Erica Sinclair na sorveteria do Shopping Starcourt

Indo para o conflito, temos velhas receitas, o já conhecido estereótipo do russo caricato e vilão, nesse caso se faz até plausível por se passar em tempos de Guerra Fria, que viria acabar mais tarde em 1991. Mas o fato que em maioria, os produtos audiovisuais americanos, dão um jeitinho de vender sua cultura e reforçar sua soberania, de uma maneira heróica se possível.

Stranger Things 3, com todos apuros, cenas de ação e pura ficção com criaturas nojentas, consegue nos passar lições reais, o mais lindo disso é que essas lições são passadas por adolescentes, onde uma garota (Eleven) é a mais forte e heroína, e sua amiga Max (Sadie Sink), a ensina sobre sororidade, a mesma Max que anda de skate e lê os quadrinhos da Mulher Maravilha. A série ensina sobre esperança, a relação de pai e filha entre o Sheriff Hopper (David Harbour) e Eleven (Millie Bobby Brown), é uma lição de amor e compreensão, de como o amor reconstrói pontes, por mais que pareçam impossíveis de ser refeitas.

Os pontos negativos ficam por conta das soluções narrativas fracas para as cenas de ação, como por exemplo, a base russa em Hawkins, que é extremamente fácil de ser acessada, as lutas corporais são de extrema violência para poucas sequelas nos personagens e o Devorador de Mentes não é tão complexo e misterioso como nas temporadas passadas, ele assume o ponto de vilão bestial sem muito propósito.

Ademais, Stranger Things é de um nível altíssimo de produção audiovisual, extremamente rico em detalhes e muito homogênea entre todos os componentes, a fotografia dialoga com a arte, que dialoga com a montagem, que dialoga com as relações entre os personagens e o universo onde se passa, e que por fim, emociona. É difícil não chorar no final.

Vale muito ver, e assim como eu, ansiar por uma próxima possível temporada.


E, ah... tem pós-créditos.

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